Waliche vida longa ao verdadeiro black me
1 - Primeiramente muito obrigado por aceita convite do 'Metal Negro América do Sul", Conte em suas palavras como foi formado a horda Waliche e, quais são as influências músicas da horda?
Bom, o Waliche é um projeto que já vinha desde 2020 sendo planejado para que eu pudesse botar em prática as músicas e filosofia de uma maneira mais consistente e coerente, esse projeto surgiu não somente por minha causa mas foi algo decidido pelos meus ancestrais, através de revelações espirituais e os chamados, apesar de que durante um tempo estive relutante em atende-los. Esse projeto é uma necessidade, para colocar não somente o meu povo no imaginário coletivo novamente mas também em um contexto pan-indigenista, a falta de uma banda com integrantes indígenas dentro da cena brasileira principalmente é algo que trouxe certas consequências negativas, como por exemplo muitas pessoas fazendo músicas sobre nós indígenas sem nem ao menos nos compreender ou nos verem como seres humanos, dentro da sociedade ainda existe todo aquele modo de pensar que nos coloca como "exóticos", ou em resumo, animais. O Waliche é uma ferramenta, uma ferramenta para espalhar a nossa realidade, a nossa verdade e filosofia.
O Waliche tem o propósito de levar orgulho de quem somos para as pessoas indígenas.
Sobre influências musicais, bom, as principais são Xibalba Itzaes do México, eles são a banda pioneira do Black Metal Indígena, em uma época onde todos faziam um som com a mesma fórmula e temas, eles apareceram pra destruir tudo com a sonoridade caótica e temas do mundo meso-americano, também levamos como influência o Pan-Amerikan Native Front e o Corubo, que foi a primeira banda de black metal indígena do Brasil! Eles são os pioneiros e a falta de conhecimento na nossa cena é tão grande que erroneamente algumas pessoas já colocaram o Waliche nessa posição de "Pioneiro". Eu posso ter sido o primeiro a usar o termo "True Indigenous Black Metal" mas não sou o pioneiro do subgênero de maneira alguma e criei esse termo justamente para ir contra certas bandas com integrantes brancos que se intitulam "indígenas".
Por último e não menos importante, a banda Nargaroth também é uma grande influência para nós.
2- Como está sendo trabalho para lançamento do matéria da horda?
Até o momento tudo tem caminhado para um ótimo resultado, tanto em execução instrumental, como também na profundidade que estamos colocando no material, trabalhando em letras que carregam grande significado espiritual e também emocional. Todas as guitarras e linhas de baixo do álbum já estão gravadas, no momento estamos no processo de escrever as letras e Makota, o baterista também está trabalhando nas linhas de bateria. Um dos diferenciais do novo álbum será a adição de instrumentos nativos, como a flauta e tambores, que vão estar presentes em alguns trechos e introduções, o álbum também vai trazer muitos solos, passagens acústicas e também vocais limpos, como já foi visto no nosso primeiro álbum, isso tudo contribui para que nosso som seja algo extremamente único, algo que é reconhecível aos ouvidos do público.
Apesar de que as vezes possa ser cansativo fazer música, o resultado é gratificante, ainda mais quando se tem um propósito maior por trás.
3- Qual é a sua visão ideológica da horda, e o que pensa respeito do Satanismo?
A respeito do satanismo, eu tenho opiniões que podem causar um certo alvoroço na mente das pessoas, porém emum grande resumo, apenas vejo o satanismo como um "cristianismo reverso", é algo que está totalmente dentro do espectro cristão e da mitologia judaico-cristã, sendo o próprio satanás só mais um dos avatares sombrios de um suposto deus que é falho e sádico, entretanto eu nunca quis e nem sequer pretendo entrar em debates com pessoas que seguem o satanismo, a nossa visão é essa e não vai mudar, também não estamos obrigando ninguém a seguir nossa visão.
Tenho uma crença complexa e que estenderia demais o tópico, porém para esclarecer, não sou ateísta, sigo o sistema de crenças tradicionais do meu povo e também presto culto a Niajkenvoeh (ou Quetzalcoatl) e Itmutj'ub'ken (ou Tezcatlipoca), Makota também segue nessa mesma linha, com a fé dele sendo voltada a nossas culturas ancestrais.
4- Qual sua opinião sobre plataformas e redes sociais, você concordar que isso ajuda ou você acha que a internet trouxe mais benefício, ou prejuízos ao underground?
As redes sociais e plataformas de Streaming são uma ótima maneira de divulgar a música e ter um contato mais direto com o público mas ao mesmo tempo é algo que pode trazer certos incômodos, porque numa era onde tudo é artificial e superficial, você pode ter muitos seguidores mas a grande maioria provavelmente nunca ouviu sua banda, simplesmente porque querem parecer melhores que os outros e dizer por aí que conhecem muitas bandas, quando na realidade não passam de falsos e hipócritas.
Algo que sempre pensei é: melhor ter 10 apoiadores reais do que uma multidão de falsos que só estão ali pra ocupar espaço.
5- A Horda Waliche é um horda com integrantes indígenas, falei sobre isso e, horda esta dívidida entre brasil e guatemala?
Quanto as nossas origens, bom, eu sou de origem Charrúa, nós Charrúas somos um povo que por muito tempo caiu no esquecimento e fomos colocados como "extintos", mas como profetizado por nossos anciãos, estamos saindo das sombras para retomar nossos lugares.
Makota é de origem Tz'utujil Maya que é uma das etnias Mayas, muito provavelmente se estabeleceram na Guatemala após migrarem de Chichen Itza, pelo menos é o que indica o Chilam Balam.
6- Como você define o som da horda Waliche e, que o inspirou a batizar a horda com este nome?
Bom, a palavra Waliche na língua do meu povo é algo bem abrangente e tem mais de um significado, podendo ser: Feitiçaria, Medicina ou Bruxaria. É uma palavra forte, obscura e que reflete minhas origens, já que minhas bisavós eram curandeiras.
7- Quantos matérias a horda Waliche possui, qual são plano futuro da horda.
Não diria que tenho muitos planos traçados para o Waliche, é algo que não está somente dentro do meu alcance, nós iremos continuar nessa guerra através de nossa música, se oportunidades para tocar ao vivo eventualmente aparecerem, então assim será. O Waliche irá continuar enquanto ainda houver a necessidade, se os ancestrais quiserem que isso acabe, então vai acabar e isso é melhor do que fazer música simplesmente por fazer.
8- Como voce ve a cena black metal na atualidade e, sobre postura da horda perante preconceito de raças?
A cena atualmente é um assunto um tanto quanto complicado, muitas pessoas estão chegando ao black metal e isso não deveria ser algo ruim ao todo mas claro que tem seu lado prejudicial.
Muitas dessas pessoas tem uma visão superficial sobre o subgênero mas mesmo assim querem fazer mais e mais bandas mesmo sem compreender o porque de estarem fazendo tais coisas, infelizmente são esforços fúteis.
Eu gosto de apoiar outras bandas, gosto muito mas obviamente tenho uma preferência por bandas que carregam uma filosofia profunda.
Nós do Waliche somos pessoas que sofreram e ainda sofremos com o preconceito racial, inclusive já recebemos mensagens em tons de ameaça e zombaria de indivíduos que compactuam com o nazismo, mas isso só serviu para alimentar nosso ódio e nos motivar a continuar com a música.
Não apoiamos de maneira alguma atos racistas e preferimos que pessoas que apoiam tais coisas não escutem Waliche.
Nosso som não é para esse tipo de pessoa.
9- Falei das suas origens e, o que black metal representa para horda?
O Black Metal representa uma parte de quem sou, faz parte da minha essência. O Black Metal é o submundo dos renegados, e eu era um deles, então caí de cabeça nisso... mas jamais pensem que todos no Black Metal são iguais ou seguem as mesmas coisas.
Eu desenvolvi minhas próprias visões dentro disso e também minha própria filosofia, eu concordo com a frase "Black Metal é Guerra" - mas gostaria de acrescentar que cada indivíduo luta sua própria guerra.
10 - Para finalizar, deixe tuas palavras aos guerreiros (as), da nossa cena underground e, muito obrigado pela entrevista, vida longa Horda Waliche.
Mais uma vez agradeço pela oportunidade de estar aqui respondendo essa entrevista e também pelo apoio.
Aos verdadeiros guerreiros de nosso underground, gostaria de agradecer pelo grande apoio, a luta continua.
Também gostaria de dizer que, ninguém é novo ou velho demais para buscar a verdade sobre si mesmo, independente de raça ou etnia, busquem conhecer a si próprios, busquem fazer aquilo que vai libertar o espírito de vocês e trazer paz, conhecimento e descanso.
E é claro, vida longa ao verdadeiro black metal.